CHUMBO CRUZADO
PF INDICIA JOESLEY BATISTA E KÁTIA RABELLO POR OPERAÇÕES IRREGULARES
JOESLEY
BATISTA É ACUSADO DE CRIME FINANCEIRO COM DONA DO BANDO RURAL
controlador do grupo J&F Participações, Joesley Batista |
O controlador do grupo J&F Participações,
Joesley Batista, que controla o Friboi, maior frigorífico do mundo, e a ex-presidente
do banco Rural, Kátia Rabello, que cumpre pena de prisão no caso do mensalão,
foram indiciados pela Polícia Federal sob a acusação de fazerem empréstimos
cruzados entre instituições financeiras nas quais têm participação, segundo
reportagem de Andreza Matais no jornal O Estado de S. Paulo. Consideradas
ilegais, as operações envolveram empréstimos de R$ 160 milhões. A pena pelo
crime contra o sistema financeiro pode chegar a seis anos de reclusão, além de
multa. Josley Batista é irmão de Junior Friboi, um dos pré-candidatos do PMDB
ao governo de Goiás.
Segundo a Polícia
Federal, as empresas recorreram à troca de empréstimos numa operação conhecida
como “chumbo cruzado”, muitas vezes usada para simular negócios e inflar
balanços. Em outra investigação, o Banco Central também viu irregularidades nos
empréstimos entre o banco Rural e o banco Original, que pertence à J&F
(leia mais na página B3).
O indiciamento ocorre
quando a autoridade policial se convence de que há indícios suficientes de que
o investigado praticou a infração penal e que deve ser denunciado pelo
Ministério Público à Justiça, mas não significa condenação. A J&F negou ter
realizado operação casada.
Investigação. A investigação da
Polícia Federal chamou a atenção para empréstimos feitos em datas muito
próximas entre empresas dos dois grupos. Segundo a apuração, o banco Rural
emprestou R$ 80 milhões ao grupo J&F Participações S/A e à empresa Flora
Produtos de Higiene e Limpeza, que pertence ao J&F, em 22 de dezembro de
2011.No mesmo dia em que as empresas do grupo J&F receberam os empréstimos
em suas contas no banco Rural, o dinheiro foi transferido às contas no banco
Original.
Quatro dias depois, o
banco Original repassou os R$ 80 milhões para a Trapézio S/A, empresa holding
que controlava as instituições financeiras do Rural. Três dias depois dessa
transação, a Trapézio aplicou parte do valor (R$ 65 milhões) no aumento de
capital social do banco Rural, ao integralizar ações ordinárias nominativas. Na
época, o Rural era pressionado pelo BC a reforçar seu capital. Com a operação,
o Rural obteve a “folga” financeira necessária.
Outro ponto que chamou
a atenção da Polícia Federal foi o fato de o próprio banco Original ter
indicado que as condições para o empréstimo para a Trapézio eram desfavoráveis.
O empréstimo correspondia a 4,5 vezes o patrimônio líquido da Trapézio em
novembro daquele ano. Na classificação de risco feita pelo Original, a nota da
Trapézio era D-.
Na véspera.
A PF também chamou a atenção para o fato de
que as empresas tomadoras dos empréstimos não tinham relacionamento bancário
com as instituições financeiras até a véspera da operação de crédito. A
Trapézio abriu uma conta no Original uma semana antes da liberação dos
recursos. A Flora Produtos abriu a conta no Rural um dia antes de conseguir o
empréstimo e a J&F Participações, apenas três dias antes.
Nem Joesley nem Kátia
participaram das decisões dos comitês de crédito dos bancos que aprovaram a
concessão dos empréstimos. Joesley, contudo, foi o avalista dos contratos
firmados entre a J&F e a Flora Produtos com o Rural. Kátia assinou o
contrato pela Trapézio. A PF conclui, ainda, que Joesley foi o “responsável”
pela decisão das operações financeiras realizadas pelo grupo econômico
controlado pela J&F. O indiciamento pela PF foi encaminhado ao Ministério
Público, que ainda não se posicionou.
Outras 15 pessoas
entre diretores dos bancos Rural e Original supostamente envolvidos nas
operações irregulares e administradores das empresas usadas para a triangulação
também foram indiciados pela PF em 16 de janeiro deste ano. O inquérito
tramitou em Porto Alegre (RS), sede do banco Original, e foi aberto a pedido do
Ministério Público Federal de Minas Gerais, por sua vez acionado pelo Banco
Central.
Entre os indiciados
pela PF estão três executivos do Rural que também foram condenados na Ação
Penal 470 (mensalão): a própria Kátia Rabello, com pena de 16 anos e 8 meses, e
os ex-diretores Vinícius Samarani e José Roberto Salgado.
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